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São dois antigos, originais ao máximo, que habitam minha vida: o Puma, 1980, por já ter conquistado a placa preta está isento desta inspeção veicular caça-níquel de São Paulo. O Passat TS, 1982 - que apesar de original ao máximo - por ainda não ter os 30 anos não está isento. Este foi hoje para o posto de vistoria da CONTROLAR (um verdadeiro "negócio da China", máquina de fazer dinheiro).
Quem acompanha este blog já percebeu o cuidado que tenho com os meus antigos. Assim que comprei este TS a minha primeira providência foi levar direto à oficina para trocar TUDO (não é exagero) na parte mecânica. Do motor, só o bloco não foi trocado. Foi feita a retífica, pistões, válvulas, anéis, etc. Platinado, velas, tampa do distribuidor, cabos de velas, filtros, bombas, embreagem, freio, calços de câmbio, amortecedor, molas, pneus, escapamento e por aí vai... Tudo por peças originais ou similares às originais. O carro ficou com a parte mecânica zero quilômetro. Isto há pouco mais de 3 meses.
De lá para cá o carro andou muito bem nos finais de semana (alternando com o Puma), eventualmente nos dias de rodízio e fez uma etapa do Torneio de Regularidade em Interlagos. Tudo isto sem apresentar queima de óleo ou vazamento de qualquer espécie.
Além do carro estar com tudo novo, ainda tomei o cuidado de levá-lo na semana passada à oficina para regular o carburador e o ponto para enfrentar a maldita inspeção. Levei também para verificação da emissão de gases. O carro saiu de lá com a certeza de que estava apto para ser aprovado pela vistoria da CONTROLAR. Ainda me foi recomendado rodar com ele nestes dias que antecederiam a inspeção e chegar ao local com o motor quente.
Ou seja, fiz tudo o que é recomendado e certamente está melhor que muito carro moderno que anda por aí...
A única coisa que não fiz foi tentar burlar a inspeção utilizando "recursos" como colocar álcool no tanque ou regular para uma mistura extremamente pobre. Fui com o carro como deve ser, em perfeita ordem, com gasolina e regulado corretamente.
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Por coincidência cheguei ao local (Raposo Tavares) junto com outro antigo, um Opala 4100cc 1976, belíssimo e original e que também não fumava pelo escapamento. Ocupamos os boxes lado a lado. Todos os outros carros no local eram modernos e destes modelos iguais entre si, independente da marca, em cinza e preto.
Colocaram um cabo no motor e entubaram o escapamento do carro. Depois o inspetor ficou com o pé travado no acelerador por longos minutos e finalmente deixou o carro em marcha lenta por outros longos minutos.
Sai uma tripa de papel da impressora e o Sistema determina: REPROVADO. 5,35 (COc %VOL) na marcha lenta quando deveria ter dado até 5 (COc %VOL).
Só para ilustrar, o belo Opala 4100 1976 também foi reprovado.
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Saí de lá determinado a descobrir porque um carro de fabricação nacional, mantido com a mecânica original, bem cuidado e com peças de mecânica novas e em ordem é reprovado.
Ora bolas, eles não dizem que a tabela é justa e que leva em consideração a tecnologia e os níveis de emissão que eram aceitos à época de fabricação?
Minha primeira providência foi procurar por esta tabela que é usada pelo famigerado CONTROLAR. Claro que não encontrei no site deles, onde era de se esperar que esta tabela estivesse de forma clara e transparente.
Fui encontrar a tabela nesta matéria no site
Globo.com. Deve ser a atual, pois a matéria data de 03/08/2010:
Tabela de limites de C02 em porcentagem (%)
Ano de fabricação | Gasolina | Álcool | Flex | Gás Natural |
Todos até 1979 | 6,0 | 6,0 | - | 6,0 |
1980-1988 | 5,0 | 5,0 | - | 5,0 |
1989 | 4,0 | 4,0 | - | 4,0 |
1990-1991 | 3,5 | 3,5 | - | 3,5 |
1992-1996 | 3,0 | 3,0 | - | 3,0 |
1997-2002 | 1,0 | 1,0 | - | 1,0 |
2003-2005 | 0,5 | 0,5 | 0,5 | 1,0 |
2006 em diante | 0,3 | 0,5 | 0,3 | 1,0 |
Sim, pela tabela as variáveis são apenas o ano de fabricação e o combustível. Dane-se de quando é a tecnologia do seu motor e se era aceito na época.
O meu Passat TS 1982 (na tabela, máximo de 5 COc) saiu da Volkswagen exatamente com a mesma mecânica e tecnologia de um Passat TS 1979. Porém um TS 1979 (que é aprovado com 6 COc) se obtivesse o meu índice (5,35 COc) passaria na inspeção apenas por ser 1979.
Entenderam? Nem eu. O motor e as peças da parte da mecânica SÃO OS MESMOS em 1979 e em 1982 no caso do Passat TS e os limites na tabela são diferentes (5 COc para o TS 1979 e 6 COc para o TS 1982).
Este é, no mínimo, um critério errado.
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Para resolver esta distorção eu terei que agendar nova vistoria, procurar novamente a oficina, perder mais horas de trabalho e levar o carro para a CONTROLAR com o motor engasgando e fraco usando "recursos" para passar na vistoria como colocar álcool no tanque e deixar a mistura do carburador pobre.
E juro, eu não queria fazer isto e tentei, hoje, fazer direito.
Hoje o meu TS é um Bad Boy por ser de 1982 e mantido com a tecnologia original da época. Certamente eles acham que tirá-lo das ruas aos sábados e domingos resolverá esta poluição de ontem (23/08, UOL).
Se o espírito da lei é ambiental, me obrigar a deixar o carro apto por apenas algumas horas só para a vistoria não é exatamente o objetivo.
Tentei fazer tudo certo uma vez, mas não deixaram. Então "recursos" é o que terão na próxima vistoria.
Danem-se eles, e eu.
Abraço,
@MarceloSCamara
e-mail: semeuTSfalasse@marcelocamara.com